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segunda-feira, 28 de junho de 2010

O que é o Cenáculo?

Para que possamos viver o espírito do Cenáculo, proposto por nosso santo fundador Vicente Pallotti, é preciso entender o que isso significou, no passado, para os apóstolos e para a Igreja primitiva, e como podemos experimentá-lo no presente.

Primeiramente a palavra Cenáculo significa: sala da ceia, ou da refeição.

“Jesus enviou Pedro e João, dizendo: Ide e preparai-nos a ceia da Páscoa. Perguntaram-lhe eles: Onde queres que a preparemos? Ele respondeu: Ao entrardes na cidade, encontrareis um homem carregando uma bilha de água; segui-o até a casa em que ele entrar, e direis ao dono da casa: O Mestre pergunta-te: Onde está a sala em que comerei a Páscoa com os meus discípulos? Ele vos mostrará no andar superior uma grande sala mobiliada, e ali fazei os preparativos. Foram, pois, e acharam tudo como Jesus lhes dissera; e prepararam a Páscoa” (Lc 22, 8-13).

A ceia preparada pelos enviados de Cristo foi tão marcante que nunca mais saiu da memória dos participantes, mesmo que muitas coisas, de imediato, não tivessem sido compreendidas. O jantar poderia ter sido igual a tantos outros que aconteciam por ocasião da Páscoa, mas aquele foi muito especial. Jesus tinha percebido que a sua hora tinha chegado e por isso, com muita tranqüilidade, pediu que aquela Páscoa fosse bem preparada, para que ficasse gravada na mente de todos ao longo dos séculos.

Jesus escolheu um lugar espaçoso e acolhedor, longe dos olhares curiosos, para que pudesse se alegrar com seus amigos antes de partir definitivamente deste mundo. Junto aos seus discípulos deu suas últimas instruções. Ele não só jantou com eles, mas fez algo que até então ninguém havia feito antes. Ele tomou o pão e abençoou e disse palavras misteriosas que, à primeira vista, não foram compreensivas: “isto é o meu corpo dado por vós”. Tomou o cálice com vinho, repetiu a benção e disse: “isso é meu sangue derramado por vós. Fazei isto em minha memória” (Mt 26,26-28). Na verdade, o que ficou naquele momento na mente dos discípulos foi apenas uma indagação. O que é realmente isso? O gesto de Jesus só foi compreendido integralmente após sua ressurreição.

Tudo foi muito rápido e sem explicação. Aliás, eles estavam pasmos diante das palavras misteriosas do Mestre. Diante de tamanha novidade, não conseguiram nem mesmo elaborar uma pergunta sequer, porque Jesus sempre os surpreendia com alguma novidade. Eles estavam tão atônitos que nem conseguiam perguntar quem seria o traidor. Acotovelavam-se para que alguém perguntasse quem deles o iria trair. Sobrou para João fazer a pergunta, pois era notória a sua proximidade com o Mestre, e perguntou quem poderia ser (Jo 13,20-26). A resposta deixou-os ainda mais confusos, porque Jesus disse: aquele a quem eu der o pão embebido. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas. Naquele momento já não havia mais espaço para a lucidez, pois não haviam compreendido nada.

Após a Ceia, Jesus foi ao monte das Oliveiras para rezar e levou consigo alguns dos discípulos (Mt 26,37). Mas naquela noite era difícil ficar concentrado para rezar. Uma voz parecia tomar conta da emoção daqueles que seriam os continuadores da obra iniciada pelo salvador. As palavras da Ceia latejavam em suas mentes e acabaram dormindo. Por várias vezes Jesus voltou de onde estava em oração e os convidou para rezar com ele. Jesus procurou estimulá-los para que pudessem sair daquele torpor, daquela letargia e animosidade. Mas foi em vão. A cabeça estava muito pesada (v. 41-46). A apreensão invadiu de tal maneira o coração deles que não reagiam. Isso prova que a angústia era tamanha que não conseguiam mais pensar em nada. Houve um bloqueio emocional e se desligaram das coisas mais elementares da vida. Só tinham dentro de si pensamentos neurotizantes. O pavor tomou conta das suas mentes. Isso foi até quando apareceu Judas ladeado por soldados fortemente armados para capturar o inimigo da nação. Judas se aproximou daquele com quem há poucas horas tinha feito refeição e desferiu um beijo em seu rosto (v. 47-48.55). Daquele momento em diante o pavor tomou conta dos amigos de Jesus. Cada um foi para um lado (Mc 14, 50). As indagações provenientes da Ceia agora começam a tomar novos contornos. Eles perceberam que tudo estava se aproximando do fim e restou apenas a desolação e os questionamentos. Como será daqui para frente?

Daquele momento em diante, os amigos de Jesus se dispersaram, um deles saiu nu correndo pela escuridão em meio aos olivais salvando-se daquele fatídico acontecimento (v. 51-52). Jesus foi preso e passou por muitas humilhações. Foi levado até às autoridades, foi zombado, interrogado noite adentro, maltratado. Há algumas horas estava rodeado de amigos, agora enfrenta a solidão, a dor e o desprezo. Pedro tentou acompanhar de longe o desfecho, mas como também estava muito atordoado com a situação, não agüentou, diante da pergunta de uma serva, não titubeou, negou ser amigo de Jesus (v. 54.66-70). A sua mente estava bloqueada, os seus sentimentos arrasados, a sua esperança amordaçada. Sobrou apenas tristeza e desolação. A derrota tomava conta do seu interior. Após negar Jesus o galo cantou e um zumbido em seu ouvido, tão rápido como um raio, despertou sua consciência ferida e se recordou das palavras do Mestre: “Tu me negarás três vezes, antes que o galo cante”. Pedro chorou amargamente por se sentir incapaz de ser fiel e por não ter tido a força suficiente para retomar o caminho (v. 72). Jesus saiu da sala do interrogatório e olhou firmemente nos olhos de Pedro. Ele estava abatido, emocionalmente encarcerado, algemado, simplesmente incapaz de ser ele mesmo. Estava irreconhecível. Só lhe restou o pranto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Os caminhos para restaurar a imagem de Deus em cada pessoa (Reflexão 6)

Deus infinito Amor e infinita misericórdia

Deus nos criou à sua imagem por seu infinito amor, e nós caímos na miséria por causa do nosso pecado. Deus, porém, com sua infinita misericórdia, quer reconstruir sua imagem em nós por meio de seu Filho.

A consideração das criaturas leva Pallotti a recordar sobretudo aqueles aspectos que dizem respeito à necessidade de restaurar no homem a imagem de Deus. Por exemplo: a noite, criada para o repouso, muitas vezes serve ao homem para pecar na obscuridade; os sons do canto, em vez de ajudarem a fazer e apreciar a harmonia da criação e louvar a Deus servem tantas vezes para estimular o mal, as paixões desordenadas do homem; os alimentos e as bebidas, criadas para remediar as necessidades temporais do homem, muitas vezes instigam a intemperança e as ações brutais etc.

Jesus Cristo, perfeita imagem do Pai

Jesus Cristo Redentor é apresentado como o dom da infinita Misericórdia e do infinito Amor de Deus para com o homem pecador. Pallotti concebe que Deus, depois do pecado de Adão, que nos fez destinados ao inferno, movido pela sua infinita Misericórdia, como enamorado do homem tanto ingrato como miserável, lhe promete o Redentor, seu próprio Filho divino: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Deus feito homem não somente nos redime, mas, pela sua santíssima humanidade, nos ensina como viver para renovar e aperfeiçoar nossa alma enquanto viva imagem de Deus. A atenção de Pallotti foi dirigida sobretudo à imitação de Cristo pobre, trabalhador, humilde, obediente na abnegação, sujeito ao sofrimento.

Pallotti nos propõe a meditação como método para alcançar as virtudes de Cristo. Concretamente, o seu método propõe o conteúdo da fé, explicando à luz da doutrina da Igreja os artigos do Creio. Com isto deseja suscitar na alma sentimentos de contrição, considerando a indignidade da própria conduta e a situação da miséria da própria alma por não ter respondido aos desígnios do amor de Deus.

O conhecimento do desígnio de Deus, realizado em plenitude na mais perfeita imagem do Pai, Jesus Cristo, torna a alma consciente do caminho que deve percorrer. A oração que segue exercita a esperança e a confiança em obter aquilo que a alma deseja no colóquio com: Deus, meu Pai ou com: Meu Deus, Jesus meu, redentor da minha alma. Pallotti deseja restaurar a imagem de Deus, Amor infinito, em sua própria alma, nos aspectos em que descobre ter particular necessidade. [HP II, p. 506-509]

Para concluir, pode-se afirmar que o opúsculo de Pallotti: Deus, o amor infinito contém a proposta de um método de meditação cristã, solidamente fundado, para restaurar no homem a imagem de Deus deformada pelo pecado.

A adaptação da linguagem se faz necessária para que as pessoas do nosso tempo possam crescer sempre mais na experiência de Deus, e no desejo de buscar a Cristo Apóstolo do Pai, nas atividades mais singelas de cada dia. Para isso, é urgente que cada pessoa tome contato com a Palavra de Deus e se deixe guiar por ela, entregando todo seu presente, passado e futuro nas mãos daquele que pode trazer a paz (Lc 19,42; Mt 10,34).

Hoje encontramos pessoas desintegradas interiormente, em contínua falta de coerência aos critérios escolhidos, sem confiança em si mesmas e sem capacidade de confiar nos outros. Falta o ponto de unificação da própria personalidade. Eis a importância de ter critérios de fé, assimilados solidamente na meditação pessoal, encarnados e colocados como base da própria vida afetiva. Somente Cristo pode dar unidade de vida, restaurando no homem a imagem de Deus que ele mesmo nos deixou com sua palavra e sua vida e que Ele agora realiza por meio da Igreja. [HP II, p. 512].